Anencefalia diante dos tribunais
12/7/2004 Paulo Werneck
“Sou engenheiro e estudo Direito. A cada dia me surpreendo como alguns conseguem utilizar a retórica com total descompromisso com a realidade, o Direito – notável criação da sociedade e da cultura – como forma de barbárie. Parece-me o caso em tela. Os dignos srs. Cláudio Fonteles, procurador-geral da República (não é um mero bacharelando como eu), o sr. João Sarti Jr., causídico de respeitado escritório, defendem que uma mulher tenha que carregar em seu ventre um ser sem cérebro, para vê-lo morrer minutos após a dor do parto. Um escritor português, Luís de Stau Monteiro, em sua peça “A Guerra Santa”, ácida crítica de todas as guerras, põe na boca de suas personagens diálogos que cito de memória: General: O que acontecerá a um corpo se lhe tirarem o cérebro? Major: Não sou versado em biologia, mas parece-me que não sobreviverá… Ponto: …A menos que entre para a tropa. Em outro diálogo, o ponto afirma que o soldado sem cabeça será promovido a general. Parece-me que se Stau Monteiro fosse vivo, poderia escrever qualquer coisa semelhante: as pessoas sem cérebro poderiam vir a ser advogados ou procuradores da República… Senhores, por favor, menos tecnicalidade e mais bom senso. Um ser sem cérebro não sobrevive fora do útero. Atenciosamente,”