Anencefalia diante dos tribunais   Migalhas
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Anencefalia diante dos tribunais – Migalhas

Anencefalia diante dos tribunais

12/7/2004 Samir Pires – advogado

“Nenhuma estranheza me causou a postura da CNBB diante da liminar recentemente concedida pelo DD. Ministro Marco Aurélio. Em verdade, já era de se esperar tamanha “revolta” do Clero. Contudo, alguns questionamentos devem ser feitos, acompanhando o pensamento do colega Marcelo Cláudio C. Duarte. É usual a CNBB vir a público em assuntos que dão margem a discussões ferrenhas (entende-se ibope), defendendo os ensinamentos religiosos com tamanho fervor. Contudo, diante de todos os problemas sociais que temos em nosso País, essa Instituição por vezes passa a impressão de hipócrita e totalmente fora da realidade. Enumeremos os problemas: miséria generalizada, fome, gravidez na adolescência, AIDS, invasões dos sem terra e dos sem teto, violência urbana, desemprego, pedofilia, violência doméstica (contra os filhos e contra a mulher), trabalho infantil, e muitos outros. Pode até ser desconhecimento de minha parte, mas não me lembro de nenhum “barulho” feito pela CNBB com relação às invasões no Pontal do Paranapanema, com relação às adolescentes que engravidam por falta de um acompanhamento condizente “com a vida humana”, com relação às crianças que trabalham em carvoarias, em semáforos, em lavouras de cana-de-açúcar. Não vi a CNBB comentar nenhum caso de “seqüestro relâmpago” cujo resultado tenha sido a morte da vítima. Não percebi qualquer movimento favorável da CNBB com relação às práticas de prevenção à AIDS, que tem acabado com uma série de famílias. Enfim, acho que fica bastante fácil opinar sem ter sentido na pele o problema enfrentado por esses brasileiros. Sem ter sentido na pele o desespero de uma mãe, que está sendo torturada dia-a-dia, pois sabe que carrega um filho que não poderá criar, que não poderá ver crescer. Enquanto a sociedade progride, a Instituição ficou parada no tempo, presa a valores diferentes dos dias de hoje. Uma visão romântica (e, portanto, totalmente deturpada) da sociedade. Um absurdo, enfim.”

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