Legal Operations: Paulo Silva explica o conceito e sua evolução   Migalhas
Categories:

Legal Operations: Paulo Silva explica o conceito e sua evolução – Migalhas

CompartilharComentarSiga-nos noGoogle News A A

Paulo Silva, diretor de Legal Operations e Gestão Jurídica da eLaw Tecnologia e um dos  líderes regionais do CLOC – Corporate Legal Operations Consortium no Brasil, apresenta, em entrevista, o conceito de Legal Operations e sua importância no universo jurídico. Confira:

 (Imagem: Divulgação)

Paulo Silva, diretor de Legal Operations e Gestão Jurídica da eLaw Tecnologia.(Imagem: Divulgação)

1 – O que é Legal Operations?

Pode-se dizer que o conceito/definição do que é o Legal Operations (Operações Legais em português) ainda está em construção. Esta aparente falta de definição acabou motivando uma pesquisa que está sendo desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas, que tem, entre seus objetivos, apresentar um conceito; porém, ainda que estejamos diante de um conceito aberto, é possível entender o Legal Operations como uma estrutura voltada para a gestão de departamentos jurídicos e escritórios de advocacia, ocupando-se de todos os processos de negócio, rotinas operacionais e administrativas, de modo que esta gestão promova uma maior eficiência, eficácia e efetividade, melhorando os resultados do jurídico.

Neste entendimento, reside um aspecto importante: A ideia é que os advogados deixem de realizar atividades operacionais e de gestão, dedicando-se as atividades efetivamente jurídicas (elaborar teses jurídicas, pensar em estratégias processuais etc.) e que uma outra equipe foque na operação, sua melhoria e mensuração de resultados.

2 – Como se dá este aumento na eficiência, eficácia e efetividade?

Isso se dá por meio da combinação de pessoas, processos e tecnologias: Times multidisciplinares e focados em gestão, processos bem estruturados, flexíveis e integrados e tecnologias aderentes a realidade e as necessidades da equipe jurídica.

3 – Por que o tema tem ganho destaque?

O principal motivo relaciona-se com um melhor manejo dos custos. De um lado os departamentos jurídicos precisam otimizar seus orçamentos (fazer mais e melhor com menos) e isso implica em buscar eficiências operacionais e financeiras, inclusive, revendo os honorários pagos a escritórios e os valores pagos em condenações (avaliando inclusive, os custo financeiros implícitos na manutenção de um processo ou na proposição de um acordo); de outro lado, os escritórios precisam rever suas estruturas e operações para oferecer valores de honorários mais competitivos; em paralelo, desde de 2016, com a aceleração da digitalização do judiciário brasileiro, o Brasil tem assistido a um crescimento de empresas de tecnologia que oferecem soluções e serviços para o mercado jurídico (legaltechs) para atender desde a gestão completa de departamentos e escritórios até ferramentas para necessidades mais específicas como soluções de controvérsias on-line ou geração de dashboards e painéis de jurimetria. Esse processo de digitalização acelerou-se no período da pandemia e com a expansão do uso da IA generativa, as questões relacionadas ao Legal Operations entraram na ordem do dia, uma vez que o aumento da complexidade deste tipo de operação passou a exigir profissionais com competências complementares, as competências exigidas a um advogado e que departamentos jurídicos e escritórios, igualmente, desenvolvam e amadureçam estas competências.

Esta tendência já foi mapeada pelo CLOC – Corporate Legal Operations Consortium – no seu State of the Industry Report de 2021, por exemplo.

4 – Quais seriam estas competências?

O CLOC – Corporate Legal Operations Consortium – lista 12 delas – algumas dela são: Business Intelligence, Gestão Financeira, Gestão de Fornecedores, Governança da Informação, Gestão do Conhecimento, Gestão de Projetos, Planejamento Estratégico, Tecnologia etc.

Como se pode deduzir, dificilmente estas competências serão desenvolvidas e amadurecidas sem a composição de um time de multidisciplinar.

5 – Como isso impacta o perfil do profissional do Direito e das equipes jurídicas?

A crescente necessidade por profissionais que dominem estas competências e principalmente que consigam utilizar a tecnologia aplicada ao universo jurídico de modo a trazer maior eficiência, eficácia e efetividade tem feito com que muitos advogados busquem formações complementares e que departamentos jurídicos e escritórios tenham cada vez mais em suas equipes profissionais como gestores de projetos, cientistas de dados, analistas de automação, gestores financeiros… temos aqui novas carreiras jurídicas surgindo e novas funções vinculadas a legal operations sendo requisitadas pelas empresas.

Esta tendência já foi mapeada pelo CLOC – Corporate Legal Operations Consortium – que no seu State of the Industry Report de 2021 –  estudo realizado com 200 companhias de 21 países, apontava que 40% tinham registrado crescimento no número de profissionais dedicados exclusivamente à Legal Ops.

Aqui no Brasil, citando novamente a Fundação Getúlio Vargas, esta demanda por estas novas funções já foi identificada na pesquisa “Futuro das Profissões Jurídicas”, mas antes disso, há mais de uma década, o professor Richard Susskind já apontava para novas funções vinculadas fortemente a tecnologia e análise de dados em seu célebre livro “Tomorrow Lawyers”.

6 – Dominar a tecnologia é essencial para o profissional de legal ops?

A questão não é domínio, mas sim, a capability tecnológica, dito de outro modo, é a capacidade de pensar os processos de negócio a partir de uma realidade digital e não mais analógica ou de simplesmente reproduzir em um ambiente digital um processo “físico”, sem reavaliá-lo e entender o que não faz sentido no ambiente digital.

Isso exige um conhecimento quanto a aplicabilidade das tecnologias e suas potencialidades. Trata-se de entender a tecnologia e como ela se integra ao dia a dia das operações.

7 – As empresas de tecnologia voltadas ao mercado jurídico podem auxiliar neste processo de desenvolvimento desta capability?

Mais do que simplesmente venderem suas soluções, as empresas de tecnologia precisam participar da capacitação dos advogados e dos profissionais de legal ops oferecendo conteúdos para que consigam navegar neste mercado cada vez mais pautado pela eficiência e pelo uso massivo de dados e de tecnologia.

eLaw Tecnologia

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *