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Duas premiações anunciadas na última semana a respeito das entregas do Prêmio Nobel de 2024, nas áreas da química e da física, destacam a importância da IA – Inteligência Artificial para o desenvolvimento e o futuro da humanidade.
O Nobel de física, atribuído ao americano John Hopfield e ao britânico Geoffrey Hinton, premia as descobertas e invenções fundamentais que permitiram a aprendizagem de máquinas (machine learning) por meio de redes neurais artificiais. A pesquisa da dupla é da década de 1980 e pavimentou o caminho para os sistemas atuais de aprendizado profundo (deep learning).
Já o Nobel de química foi dado aos cientistas norte-americanos David Baker e John Jumper e ao britânico Demis Hassabis pelo design computacional de proteínas e pela previsão da estrutura de proteínas. Ou seja, os cientistas utilizaram com sucesso a inteligência artificial para prever a estrutura de quase todas as proteínas conhecidas, além de aprender a dominar os blocos de construção da vida e a criar proteínas inteiramente novas.
O reconhecimento da “Real Academia Sueca de Ciências”, órgão responsável pelas premiações, mostra o quão importante é o uso da inteligência artificial para aprimorar as diversas áreas do conhecimento e encontrar soluções mais rápidas, eficientes e específicas para vários tipos de situações. Por outro lado, também reascende a preocupação em relação as incertezas quanto a sua utilização e o eventual controle das máquinas.
Isso porque o uso de algoritmos, especialmente no caso do aprendizado de máquinas, levanta questões éticas importantes, como segurança, privacidade e responsabilidade. Os próprios vencedores do Nobel de física alertaram sobre a tecnologia a qual ajudaram a criar. “Nas mesmas circunstâncias, eu faria o mesmo novamente. Mas estou preocupado que a consequência geral disso possa ser sistemas mais inteligentes do que nós que eventualmente tomem o controle”, disse Geoffrey Hinton à jornalistas após o anúncio.
Hinton é conhecido como “o padrinho da IA” por suas contribuições tecnológicas, entre elas, a que revolucionou o reconhecimento de fala e classificação de imagens. Em 2023, chamou a atenção do mundo ao deixar seu cargo no “Google” e alertar sobre os riscos profundos da tecnologia para a sociedade e a humanidade. Seu colega de profissão Hopfield também compartilha da preocupação e classificou os avanços recentes na tecnologia de “muito inquietantes”. “Você não sabe se as propriedades coletivas que você começou são realmente as propriedades coletivas com todas as interações presentes”, ou seja, “Você não sabe se algo espontâneo, mas indesejado, está escondido nas engrenagens.”
Independente dos riscos, é fato que o avanço tecnológico irá continuar e que a IA vai evoluir ainda mais. Até onde, não sabemos. Estamos entrando num universo desconhecido, porém de muitas possibilidades. O próprio reconhecimento da IA em pesquisas que levaram à premiação de duas áreas do Nobel mostra que os benefícios são imensuráveis. Especialmente na área da saúde, como provaram as pesquisas que conseguiram prever a estrutura de praticamente todos os 200 milhões de proteínas identificadas pelos pesquisadores utilizando um modelo de inteligência artificial. Tentativas vinham sendo feitas, sem êxito, desde a década de 1970. O estudo contempla ainda a concepção computacional de proteínas, que são essenciais para a vida humana. A partir dessas novas técnicas será possível a produção de medicamentos que trarão avanços significativos no tratamento médico.
É apenas o início de uma nova era em que ciência e tecnologia precisam caminhar juntas para garantir a evolução do planeta e até mesmo a sobrevivência humana.
Sthefano Cruvinel
Referência em Tecnologia, considerado Amicus Curiae nos Tribunais Superiores. Exp. Inteligência Probatória. Esp. em Contratos pela FGV e BI, BA e IA com 52 certificados internacionais (Duke, Univ-EUA)