Abandonar políticas de diversidade pode sair caro para as empresas   Migalhas
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Abandonar políticas de diversidade pode sair caro para as empresas – Migalhas

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Após o anúncio do CEO da Meta, Mark Zuckerberg, sobre sua descontinuação na checagem de notícias falsas em suas plataformas, o mundo se voltou para a notícia que é um atraso para uns e um alívio para outros.

No meio deste caminho já havia outras empresas descontinuando políticas e práticas que contemplavam o fortalecimento de seus compromissos com os eixos do ESG e com a promoção e fomento de um ambiente melhor para as futuras gerações.

Nos últimos meses, empresas americanas passaram a divulgar que estariam recuando em suas iniciativas de diversidade. O Walmart, por exemplo, anunciou que iniciaria o recuo das práticas de diversidade, equidade e inclusão para colaboradores e fornecedores. O posicionamento conservador que antes era um ensaio, se tornou prática e a tendência é de que cresça ainda mais com a influência da figura presidencial dos Estados Unidos da América, Donald Trump. O retorno de Trump demonstra para as grandes marcas do mercado consumidor mais potente do mundo (americano), que o pensamento de evolução de boas práticas adotado por muitas empresas nos últimos anos pode estar equivocado.

O que antes poderia acarretar crise de imagem com grande repercussão para uma marca, nos próximos anos pode não ter relevância ou impacto reputacional que antes se temia enfrentar.

Esse movimento que podemos considerar antifuturo tem ganhado força em diversos setores empresariais globais, refletindo uma tendência de redução crítica das práticas corporativas voltadas à diversidade, à sustentabilidade e à governança. Tudo isso surge em momento de crescentes questionamentos sobre a eficácia e o impacto real dessas iniciativas, sobretudo em um cenário de instabilidade econômica e pressões para maximização de resultados financeiros a curto prazo, além da polarização global.

Entretanto, muitos riscos estão associados a essa postura empresarial das grandes empresas. Além disso, são companhias referências mundiais e a retirada ou redução de foco nas iniciativas de diversidade e sustentabilidade é altamente prejudicial para as empresas e para a sociedade, gerando uma série de impactos negativos, dentre eles podemos destacar o risco reputacional, a perda de competitividade no longo prazo, impactos regulatórios e legais, desafio na retenção de talentos, efeitos sistêmicos na sociedade (impacto social com o fim de políticas afirmativas ou de respeito à diversidade), dentre outros.

O que chama atenção nesse cenário é que o produto positivo oriundo das iniciativas e boas práticas que estavam em crescimento ao redor do mundo, ligadas à diversidade, equidade e inclusão, não foram suficientes para que o conservadorismo mercadológico não voltasse a atuar. A grande questão, considerada pelas empresas tendentes ao retrocesso, é se tal ato impactará em seus resultados e se seus clientes mudarão de comportamento. Não havendo qualquer movimento negativo relevante, possivelmente a degradação dos direitos humanos, meio ambiente e governança estará em alta.

No caso de grandes empresas como o Walmart, abandonar ou reduzir o foco em diversidade, equidade e inclusão pode ser um erro estratégico, considerando a crescente demanda da sociedade por ações inclusivas. Isso pode levar ao descontentamento de consumidores, queda na confiança de investidores e aumento na rotatividade de funcionários, especialmente entre as gerações mais jovens que priorizam ambientes inclusivos.

Resta observar o comportamento do mercado quanto aos posicionamentos decrescentes em iniciativas de respeito à diversidade, equidade e inclusão nas empresas para sabermos se em pouco tempo atingiremos, novamente, o pico da desigualdade e preconceito no âmbito social, junto da negativação do aspecto reputacional das companhias, a perda de talentos e aumento de ações judiciais pelo custo oculto da discriminação.

As empresas são feitas de pessoas e isso não carece de comprovação. Desviar desse cuidado, pode trazer danos irreversíveis. A ver.

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1 Financial Times, por O Valor Econômico: “Grandes empresas nos EUA dão guinada conservadora e se alinham a Trump”, disponível em: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/01/15/grandes-empresas-nos-eua-dao-guinada-conservadora-e-se-alinham-a-trump.ghtml

2 O Valor Econômico: “Cenário para 2025: conservadorismo em alta, recuo das redes sociais, menos DEI e mais incerteza”, disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/guilherme-ravache/coluna/cenario-para-2025-conservadorismo-em-alta-recuo-das-redes-sociais-menos-dei-e-mais-incerteza.ghtml

3 O Valor Econômico: “Cenário para 2025: conservadorismo em alta, recuo das redes sociais, menos DEI e mais incerteza”, disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/guilherme-ravache/coluna/cenario-para-2025-conservadorismo-em-alta-recuo-das-redes-sociais-menos-dei-e-mais-incerteza.ghtml

4 RAVACHE, Guilherme. O Valor Econômico. “O que muda no marketing com Trump na Casa Branca e por que Jaguar e Walmart estão na mira dos conservadores”, disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/guilherme-ravache/coluna/o-que-muda-no-marketing-com-trump-na-casa-branca-e-por-que-jaguar-e-walmart-estao-na-mira-dos-conservadores.ghtml

5 RAVACHE, Guilherme. O Valor Econômico. “Zuckerberg é só o começo: conservadorismo fará retorno triunfal impulsionado por investidores e algoritmos”, disponível em: https://valor.globo.com/opiniao/guilherme-ravache/coluna/zuckerberg-e-so-o-comeco-conservadorismo-fara-retorno-triunfal-impulsionado-por-investidores-e-algoritmos.ghtml

Maria Aparecida Dutra

Maria Aparecida Dutra

Advogada, Coordenadora do Jurídico e Compliance de empresa de transporte público no Rio de Janeiro, Pós Graduada em Direito Digital e Cybersegurança (PUC), Resp. Civil e Direito do Consumidor (EMERJ).

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