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No STJ, a regra é clara: imparcialidade nas decisões. Mas quando o assunto é futebol, nos corredores do Tribunal da Cidadania, há discussões acaloradas com cada magistrado defendendo seu clube do coração.
Entre rubro-negros fervorosos, alvinegros fiéis e torcedores de equipes regionais, a diversidade clubística reflete a pluralidade da Corte.
Rio de Janeiro
Se houvesse uma torcida organizada no STJ, o Flamengo certamente seria o time com maior número de adeptos.
O clube da Gávea conta com os votos (e a paixão) de Benedito Gonçalves e Messod Azulay Neto, ambos naturais do Rio de Janeiro, além de Daniela Teixeira, que, mesmo brasiliense, carrega a paixão pelo rubro-negro. Natural do Maranhão, ministro Reynaldo Soares da Fonseca faz parte do time flamenguista.
Humberto Martins, alagoano, divide o time da Gávea no coração com o CRB, assim como Gurgel de Faria, pernambucano, que divide sua torcida com o América de Natal. É o famoso “um pé em cada canoa” – ou melhor, uma chuteira em cada campo.
Mas nem tudo é vermelho e preto no tribunal. O Fluminense tem uma bancada respeitável, com Antonio Saldanha Palheiro, Marco Aurélio Bellizze e Luis Felipe Salomão, que é baiano, mas garante que o tricolor carioca também tenha voz nas decisões.
Isabel Gallotti, por sua vez, defende o Botafogo com a seriedade de quem acredita na estrela solitária. Já Mauro Campbell Marques, do Amazonas, escolheu torcer pelo Vasco, provando que a caravela cruzmaltina navega até nos corredores do STJ.
São Paulo
Em São Paulo, a rivalidade entre os grandes clubes se mantém firme dentro do STJ. Os corintianos Antonio Carlos Ferreira e Ricardo Villas Bôas Cueva defendem o Timão. Fiéis ao São Paulo estão o ministro Paulo Sérgio Domingues (com orgulho e cadeira cativa no Morumbi) e o desembargador convocado Otávio Toledo.
A ministra Maria Thereza de Assis Moura veste a camisa e torce pelo Palmeiras. O Santos, por sua vez, tem um torcedor vibrando pela volta de Neymar aos campos: ministro Moura Ribeiro.
Minas Gerais
Se existe uma rivalidade no Tribunal que gera provocações diárias, é a entre Atlético-MG e Cruzeiro. O duelo é mais quente que final de campeonato no Mineirão.
João Otávio de Noronha, José Afrânio Vilela e Rogerio Schietti formam uma verdadeira bancada celeste, sempre prontos para lembrar os tempos de glória do Cruzeiro. Mas do outro lado do gramado, Sebastião Reis Jr., atleticano convicto, não deixa barato e sempre tem um contra-argumento pronto para lembrar os colegas do histórico do Galo.
Há quem diga que o único jeito de encerrar essa disputa seria um embargo infringente – mas nem isso resolveria!
De Norte a Sul
Os times do Sul também marcam presença. A disputa Grenal está entre Marco Buzzi, que divide sua torcida pelo Grêmio e o catarinense Marcílio Dias, enquanto o desembargador convocado Carlos Marchionatti leva no coração o Internacional.
No Paraná, o Athlético-PR aparece com dois torcedores no STJ: Sérgio Kukina e Joel Ilan Paciornik. Com o clube consolidado no cenário nacional nos últimos anos, os ministros atleticanos certamente têm mais motivos para comemorar do que para recorrer.
A força do futebol nordestino também aparece no STJ. Og Fernandes é torcedor do Sport Recife e exalta suas raízes com o Leão da Ilha. Já Raul Araújo veste com orgulho a camisa do Fortaleza, enquanto Teodoro Silva Santos defende o Ceará.
No Rio Grande do Norte, o América de Natal tem dois representantes de renome: Gurgel de Faria e Ribeiro Dantas, que garantem que o Mecão não passe despercebido.
No fim das contas, entre sustentações orais e sustentações de camisa, o STJ prova que a rivalidade do futebol brasileiro está presente até nos tribunais.
Mas se há alguém que assiste a tudo do camarote da presidência e sem tomar partido, esse é Herman Benjamin. O ministro, juntamente com Nancy Andrighi, Francisco Falcão e Regina Helena Costa, evita discussões clubísticas e só se manifesta quando o assunto é a seleção brasileira.
Afinal, ali não há divergência possível: todos vestem a mesma camisa.
Diversidade marca as paixões futebolísticas do STJ.(Imagem: Arte Migalhas)
Além dos votos: torcida em campo!
O futebol entrou nas sessões do STJ como pano de fundo para momentos descontraídos entre os ministros.
No ano passado, o ministro João Otávio de Noronha, em tom bem-humorado, comparou o desempenho do sistema eletrônico do Tribunal ao Atlético-MG: “Esse sistema tá igual o time do Atlético: tenta, tenta, tenta e perde”, brincou. A provocação arrancou risos, especialmente dos torcedores rivais.
Já em outra ocasião, logo após o Palmeiras golear o Atlético-MG por 4 a 0 no Campeonato Brasileiro, o ministro Rogerio Schietti, cruzeirense, não perdeu a chance de cutucar o colega Sebastião Reis Júnior, atleticano. Ao divergir de um voto de Sebastião durante um julgamento, Schietti disparou: “não quero trazer nenhuma outra tristeza ao ministro, além da que ele já sofreu ontem”. A resposta de Sebastião veio em meio a risadas: “Isso é perseguição!”
Outra sessão rendeu um duelo de torcidas entre ministros e advogados quando o tema foi a rivalidade entre Atlético-MG e Cruzeiro. Rogerio Schietti apontou que ele, o advogado Kakay e o procurador Antônio de Padova eram cruzeirenses, enquanto Sebastião Reis Júnior, o único atleticano, estava “em minoria”.
Até ministros aposentados entraram no jogo. Durante a sessão da 4ª turma, João Otávio de Noronha aproveitou a presença do ministro aposentado Carlos Mário da Silva Velloso, torcedor do Atlético-MG, para provocar: “Temos até um atleticano na plateia hoje! O Gabigol vai acabar com essa festa do Atlético agora”.
A rivalidade mineira segue sendo uma das mais animadas no STJ, e não é raro ver os ministros trocando provocações esportivas entre um julgamento e outro. Sebastião Reis Júnior, frequentemente alvo das brincadeiras por ser o único defensor do Galo no tribunal, virou o jogo após uma derrota do Cruzeiro para o Atlético. “Bullying“, brincou o ministro Rogerio Schietti.