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A inteligência artificial que conhecemos hoje começou a ser concebida muito antes, desde a antiguidade, quando filósofos como Aristóteles e René Descartes já especulavam sobre sistemas de raciocínio lógico e a possibilidade de máquinas pensarem. No entanto, foi a partir da década de 1950 que a computação cognitiva começou a ganhar forma como um campo de estudo estruturado.
Ainda na década de 1960, ELIZA foi um dos primeiros programas de processamento de linguagem natural, desenvolvido por Joseph Weizenbaum no MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts. O programa simulava uma conversa com um psicoterapeuta rogeriano (inspirado na abordagem de Carl Rogers), respondendo às frases dos usuários de maneira genérica e espelhada, como um terapeuta faria.
O ELIZA não compreendia de fato o que estava sendo dito, mas seguia regras simples para identificar palavras-chave e gerar respostas aparentemente significativas. De certa forma, o sistema podia parecer simples ou limitado, mas foi um grande passo para o progresso do que temos à disposição hoje, após mais de 75 anos de estudos e avanços digitais.
Embora rudimentar pelos padrões atuais, ELIZA foi revolucionário em seu tempo e pavimentou o caminho para os chatbots modernos. Graças a essas primeiras inovações, hoje contamos com agentes de IA capazes de automatizar atendimentos de forma altamente personalizada.
Quais tarefas os agentes autônomos podem assumir na advocacia?
Um agente autônomo pode executar diversas tarefas do dia a dia, como organizar atividades ou até mesmo atuar em projetos mais complexos, como estruturar e redigir um livro inteiro. Mas sua capacidade vai muito além. Então, como essa tecnologia pode transformar o trabalho nos escritórios de advocacia?
Os advogados enfrentam uma pressão constante para aumentar a eficiência e entregar resultados com menos recursos. Isso porque eles passam grande parte do tempo lidando com tarefas operacionais, como triagem de clientes, acompanhamento de processos, organização de documentos e gerenciamento de prazos. Essas demandas consomem tempo, exigem equipes amplas e, consequentemente, geram sobrecarga.
É nesse cenário que os assistentes virtuais de IA surgem como uma solução. Essas inteligências avançadas sistematizam etapas repetitivas, otimizam fluxos e ampliam o potencial analítico e estratégico das equipes jurídicas.
Combinando modelos de linguagem de última geração (LLMs), aprendizado de máquina e automação empresarial, esses agentes são capazes de interpretar grandes volumes de dados, estabelecer metas e executar funções de maneira autônoma, exigindo cada vez menos supervisão humana.
Qual a projeção para o futuro da IA?
Graças às suas funcionalidades e benefícios, as projeções para a IA têm crescido de forma exponencial. Pesquisas realizadas pela Gartner, empresa de consultoria, revelam números impressionantes. A consultoria prevê que, até 2025, cerca de 30% das empresas terão implementado uma estratégia de teste e aprimoramento com essa tecnologia, um aumento significativo em relação aos 5% registrados em 2021.
Até 2026, mais de 100 milhões de pessoas deverão interagir regularmente com colegas virtuais robóticos ou sintéticos, e quase 80% dessas interações serão semiautomatizadas, à medida que os modelos computacionais se tornam mais eficientes na compreensão de contexto.
Já em 2027, mais de 50% das empresas deverão ter um programa de governança responsável para essa inovação, garantindo maior transparência e controle sobre os riscos. Além disso, espera-se um aumento de dez vezes no número de organizações que utilizam IA de código aberto.
Quais são os maiores desafios enfrentados pela tecnologia?
Apesar dessas projeções otimistas, a IA generativa pode estar entrando no que o Gartner chama de “abismo da desilusão”, momento em que a tecnologia não atende às expectativas iniciais do mercado. Esse fenômeno ocorre quando o entusiasmo inicial dá lugar a uma condição mais complexa, com desafios técnicos, operacionais e financeiros que impedem a adoção em larga escala.
Segundo o vice-presidente e analista da Gartner, essa fase é inevitável no curto prazo. As aspirações criadas em torno das aplicações do sistema inteligente gerou uma corrida por investimentos e modernização, mas a realidade tem mostrado limitações significativas na adoção e nos resultados obtidos.
Um dos fatores que contribuem para essa possível desilusão é a fragilidade das startups de IA. O boom dos últimos anos atraiu enormes investimentos de capital de risco, fomentando o surgimento de diversas organizações especializadas em inteligência artificial. No entanto, muitas dessas startups subestimaram os custos reais para desenvolver, treinar e escalar seus modelos, o que compromete sua sustentabilidade financeira.
Além disso, grande parte dessas startups não apresenta diferenciação competitiva significativa. Muitas atuam como “camadas” sobre ferramentas já existentes, sem oferecer grandes inovações estruturais. Isso faz com que se tornem vulneráveis à concorrência, já que empresas maiores e mais estabelecidas podem facilmente replicar suas soluções com mais recursos e infraestrutura.
Outro fator crítico é a disputa por talentos capacitados. A crescente demanda por especialistas em tecnologia cognitiva, ciência de dados e machine learning supera a oferta disponível no setor. Assim, torna o recrutamento caro e desacelera o avanço tecnológico, já que equipes limitadas têm dificuldade para criar soluções elaboradas no ritmo esperado.
Outra dificuldade está na explicabilidade e confiabilidade dos modelos de inteligência artificial. As chamadas “alucinações”, onde o sistema gera informações incorretas ou sem base na realidade, ainda são um problema crítico.
Consequentemente, levanta questões sobre a previsibilidade e segurança dos mecanismos, dificultando sua adoção em larga escala. O mercado exige algoritmos mais transparentes, auditáveis e confiáveis, mas o desenvolvimento dessas qualificações ainda está em estágios iniciais.
Embora o interesse pelo tema continue elevado, o custo de implementação se tornou uma barreira significativa. Uma pesquisa do Gartner revelou que mais de 90% dos CIOs apontam a gestão de despesas como um fator limitante para extrair valor da IA.
Os gastos ocultos, como preparação de dados, armazenamento, treinamento e inferência, frequentemente são subestimados pelas organizações, o que dificulta a adoção em larga escala. Além disso, fornecedores de software estão reajustando preços em até 30%, já que esses sistemas vêm sendo incorporados de forma nativa às soluções comerciais.
O hype da IA chegou ao fim?
De fato, a comercialização da IA tem crescido de forma acelerada devido aos seus benefícios. Naturalmente, isso gera altas expectativas e entusiasmo em relação aos seus resultados. No entanto, o momento atual indica uma transição inevitável: estamos saindo do “pico das expectativas infladas” e entrando em uma fase de ajuste à realidade. Esse fenômeno reflete o amadurecimento do sistema e a necessidade de equilibrar seu potencial com os desafios existentes.
Esse cenário surgiu porque o mercado reagiu rapidamente à ascensão da computação cognitiva, com startups emergindo, empresas reformulando seus produtos e uma corrida para implementar inteligência artificial em diversas indústrias. A promessa de produtividade sem precedentes, decisões mais assertivas e até mesmo a substituição de funções humanas levou a tecnologia a um status quase revolucionário.
Agora, estamos entrando em uma fase mais pragmática da tecnologia cognitiva. Em vez de soluções mirabolantes e promessas exageradas, o foco está se voltando para aplicações mais realistas, sustentáveis e de longo prazo. Isso não significa que a IA perdeu relevância-pelo contrário, estamos apenas ajustando as aspirações para um crescimento mais estruturado.
Os avanços continuarão sendo um diferencial positivo, mas as corporações precisarão considerar estratégias inteligentes de aplicação, levando em conta custos, governança, transparência e confiabilidade. Em vez de um crescimento descontrolado, veremos um movimento mais cauteloso, baseado em validação prática e resultados tangíveis.
Como a IA pode ajudar na advocacia?
Em torno das altas promessas relacionadas à inteligência artificial, é indispensável contar com tecnologias que realmente entreguem soluções práticas para aumentar a eficiência dos escritórios de advocacia. Nesse sentido, o software jurídico ADVBOX se destaca ao oferecer automação de processos, otimizando tarefas operacionais que consomem tempo e demandam atenção constante da equipe.
Na organização de documentos, a plataforma permite que arquivos sejam armazenados de forma estruturada e categorizada automaticamente, facilitando a recuperação de informações essenciais para cada caso.
Os advogados podem buscar jurisprudências, contratos e petições com rapidez, eliminando a necessidade de atividades manuais demoradas e reduzindo erros na gestão documental. Além disso, a inteligência artificial pode sugerir modelos de textos padronizados para petições e contratos, garantindo conformidade com normas jurídicas e agilizando a produção de peças judiciais.
Já na gestão de prazos e processos, é possível sistematizar o controle de audiências, prazos e movimentações, alertando os juristas sobre datas importantes e prevenindo a perda de prazos críticos. Os sistemas inteligentes podem ainda classificar demandas conforme sua urgência, organizar a agenda da equipe e até mesmo sugerir prioridades de atendimento, para que nenhuma etapa do fluxo de trabalho fique esquecida.
Essas automações, aliada à redução de despesas administrativas, possibilita que escritórios ampliem sua capacidade de atendimento sem comprometer a qualidade dos serviços prestados.
Além disso, o software atua como uma solução na mitigação de riscos, pois utiliza modelos treinados com fontes confiáveis e verificadas, para que todas as informações processadas estejam alinhadas com legislações atualizadas e decisões judiciais oficiais.Esse rigor no tratamento dos dados evita erros causados por inferências equivocadas e assegura que os advogados possam confiar nos recursos digitais como um apoio estratégico seguro.
O uso de sistemas transparentes é indispensável para que a advocacia continue evoluindo de forma ética e funcional. Com a ADVBOX, os escritórios jurídicos podem integrar inteligência artificial e automação sem abrir mão da segurança e da conformidade legal. Dessa forma, a tecnologia deixa de ser apenas uma promessa futurista e se torna uma parceira real na otimização da atuação legal.
Quais os próximos avanços da IA?
O que podemos entender disso? Nos próximos anos, os advogados mais inovadores e bem-sucedidos transformarão ainda mais radicalmente sua forma de operar. A automação e a IA estarão totalmente integradas aos fluxos de produção, redefinindo o que cabe às pessoas, o que é delegado às máquinas e como ambas colaboram para maximizar a eficiência.
Esse novo modelo tornará as operações mais ágeis, rápidas e precisas, diferenciando os escritórios pela sua competência de engajar clientes de maneira excepcional, adaptar-se rapidamente às mudanças do mercado e impulsionar novos patamares de produtividade e satisfação dos colaboradores.
No entanto, essa transformação não acontecerá de forma linear. O ciclo de hype da IA segue um padrão já observado em outras grandes inovações. Após a fase de entusiasmo desenfreado, a realidade se impõe, separando as soluções realmente viáveis das promessas exageradas.
O verdadeiro impacto da computação cognitiva não será medido por previsões utópicas ou pela ideia de substituir completamente a cognição humana, mas sim por sua capacidade de gerar valor real e sustentável para empresas e usuários. O futuro da inteligência artificial não será apenas sobre o que é possível, mas sobre o que é viável, útil e acessível.
Isso deixa claro que, sim, os agentes tecnológicos já estão transformando a atuação, mas essa revolução ainda está em seus primeiros estágios. Para que seus impactos alcancem níveis ainda mais significativos, desafios técnicos, operacionais e éticos precisarão ser superados.
Eduardo Koetz
Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.