Importância de visão estratégica e habilidade em mediação   Migalhas
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Importância de visão estratégica e habilidade em mediação – Migalhas

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Planejar o futuro patrimonial de uma família exige mais do que técnica jurídica. Exige escuta, mediação e, acima de tudo, estratégia.

Com o crescimento da expectativa de vida e a complexidade das estruturas familiares e empresariais, o planejamento patrimonial deixou de ser um mero exercício de “transferência de bens” para se tornar um verdadeiro processo de gestão emocional, societária e sucessória.

E é justamente nesse ponto que muitos profissionais falham: acreditam que um bom planejamento depende apenas do conhecimento jurídico. Esquecem que, por trás de cada patrimônio, há histórias, conflitos, afetos e medos.

Planejar não é só distribuir bens. É construir pontes.

Em nossa atuação diária, vemos famílias tentando tomar decisões patrimoniais relevantes em meio a conflitos velados, inseguranças emocionais e desentendimentos entre herdeiros. Tentar conduzir esse processo com foco exclusivo na letra da lei é, muitas vezes, ignorar o que realmente impede a sucessão de acontecer de forma saudável.

Por isso, o papel do profissional – ou do escritório – envolvido nesse processo precisa ir além da advocacia tradicional.

Um bom planejamento patrimonial exige:

  • Mediação estruturada, para tratar as tensões familiares antes que elas contaminem o patrimônio;
  • Vivência corporativa, para entender estruturas empresariais, riscos, sucessão de gestão e governança;
  • Visão estratégica tributária, especialmente diante da reforma tributária e dos impactos no ITCMD e na sucessão de bens no exterior;
  • Sensibilidade emocional, para lidar com os dilemas do patriarca, os medos dos herdeiros e os vínculos que cercam decisões patrimoniais.

Holding familiar: Ferramenta importante, mas não é solução pronta

Nos últimos anos, a holding passou a ser vista como o “plano ideal” para organização patrimonial. E, de fato, é uma das formas mais eficazes de centralizar, proteger e transmitir o patrimônio familiar.

Porém, é preciso lembrar: holding é instrumento, não solução. Não resolve conflitos familiares, não evita disputas entre herdeiros, não supera falhas de comunicação. É necessário que sua implementação venha acompanhada de uma estratégia clara, da compreensão real dos objetivos da família e, acima de tudo, de um processo estruturado de mediação e alinhamento.

Sem isso, a holding pode se tornar apenas mais uma empresa inoperante ou, pior, um campo de batalha societária entre herdeiros.

O novo perfil do escritório de planejamento patrimonial

Não se trata apenas de elaborar um testamento ou estruturar uma empresa. Um escritório preparado para esse novo cenário precisa atuar como facilitador estratégico: alguém que compreende a dinâmica familiar, o negócio e o momento de vida dos envolvidos.

Esse escritório precisa, muitas vezes, ouvir mais do que falar. Estar disposto a adaptar estratégias jurídicas às realidades emocionais. Negociar entre gerações. Traduzir desejos em cláusulas. E mais: manter a família unida enquanto protege o patrimônio.

A técnica é necessária. Mas não é suficiente.

A técnica jurídica é indispensável. Mas ela só produz resultados duradouros quando está a serviço de uma estratégia mais ampla, que envolva mediação, comunicação e inteligência emocional.

Na prática, isso significa: saber qual instrumento usar (holding, testamento, doação com cláusulas, protocolo familiar, etc.) só tem valor se soubermos lidar com quem está diante de nós.

Planejamento não é só documento: é construção de segurança, harmonia e continuidade.

Luiz Gustavo de Oliveira Tosta

Luiz Gustavo de Oliveira Tosta

Tosta é sócio da Pons & Tosta, bacharel em Direito e especialista em Planejamento Patrimonial e Sucessório. Atua como estrategista jurídico em sucessões complexas e mediações familiares.

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