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No início da sessão plenária desta quinta-feira, 14, o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso pronunciou-se a respeito das explosões provocadas por um “homem-bomba” no início da noite de quarta-feira, 13, em frente ao STF.
Explosões em frente ao STF deixam um morto
Em sua manifestação, o ministro fez um apelo por uma “reflexão profunda” após o atentado. “Estamos importando mercadorias espiritualmente defeituosas de outros países que se desencontraram na história”, destacou o ministro, referindo-se ao aumento do ódio e da violência que tem marcado o país.
Veja o pronunciamento:
O ataque
Barroso relatou que o ataque aconteceu por volta das 19h30, quando o homem, que já foi identificado, se aproximou da estátua da Justiça com uma mochila e um extintor. Após jogar um pano sobre a estátua, foi abordado pela equipe de segurança do tribunal.
Em uma sequência registrada pelas câmeras, o homem arremessou dois artefatos, sendo que um explodiu próximo à marquise do tribunal. Ao ser cercado, ele acionou um terceiro artefato, que resultou em uma explosão fatal.
“Cumprimento os agentes de segurança e da Polícia Judicial do Supremo Tribunal Federal pela atuação correta e corajosa, bem como a Polícia Federal e a Polícia do Distrito Federal pela presteza e empenho com que trataram do assunto”, declarou Barroso.
No local, foi necessário um trabalho intenso de verificação, que durou toda a madrugada, enquanto a Polícia Federal e a Polícia Militar analisavam os explosivos deixados pelo suspeito.
Durante coletiva de imprensa, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, informou que uma operação policial encontrou uma grande quantidade de explosivos na casa alugada pelo suspeito em Ceilândia, onde uma gaveta, aberta por um robô antibombas, causou uma grande explosão.
“Ninguém se feriu, mas o episódio mostra o nível de periculosidade das pessoas com as quais estamos lidando”, ressaltou Barroso.
Episódios anteriores
Refletindo sobre o ocorrido, o ministro relembrou episódios de violência e ataques às instituições democráticas nos últimos anos.
O primeiro episódio mencionado ocorreu em fevereiro de 2021, quando o deputado Daniel Silveira publicou vídeo repleto de ofensas e ameaças aos ministros do STF, com um tom que Barroso classificou como “grau inimaginável de grosseria e incivilidade”.
Em outubro de 2022, Roberto Jefferson foi ainda mais longe ao descumprir ordens judiciais e atacar policiais Federais com armas de fogo e granadas, justificando seus atos “em nome da liberdade”.
Ainda no mesmo mês, a deputada Carla Zambelli foi vista perseguindo um cidadão, arma em punho, após uma manifestação crítica.
Esses eventos culminaram em novembro e dezembro daquele ano, quando milhares de pessoas bloquearam estradas e acamparam em frente a quartéis, questionando o resultado das eleições e clamando por um golpe de Estado.
O ministro destacou que essa movimentação foi impulsionada pela “afirmação criminosamente mentirosa de que teria havido fraude nas eleições”.
O ponto mais grave, segundo Barroso, foi registrado em 8/1/2023, quando milhares de pessoas, coordenadas via redes sociais e com o apoio de algumas autoridades, invadiram e depredaram a sede dos Três Poderes em Brasília.
Barroso lamentou que, ao invés de condenar o ataque, alguns setores buscaram naturalizar a gravidade dos atos, alertando que essa postura incentiva a repetição de comportamentos semelhantes.
Em uma crítica à polarização crescente, Barroso questionou: “Onde foi que nós nos perdemos nesse mundo de ódio, intolerância e golpismo?”.
Barroso apelou por uma “revolução ética e espiritual” e destacou a importância de superar a intolerância.
Lembrou a proclamação da República, celebrada nesta sexta-feira, 15, como um momento simbólico para renovação.
“É uma boa hora para um novo recomeço, cada um pensando de acordo com suas convicções, mas sem desqualificar ou agredir quem pensa diferente.”
Por fim, o ministro reafirmou o compromisso do STF em sua função de guardião da Constituição, mantendo-se firme na defesa da democracia e na luta por liberdade e igualdade.
“O episódio de ontem será apenas mais uma cicatriz na história. Uma história de superação e progressiva construção de um país melhor e maior.”