Desabafo
16/12/2004 Ivo Dias Souto Neto
“A batida da asa de uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo.” Os “especialistas” afirmam que o Banco Central está certo ao aumentar a taxa de juros básica da economia brasileira, pois ele deve vigiar a inflação. O nosso querido e muito bem eleito Presidente da República esqueceu-se das promessas literalmente milagrosas de crescimento e desenvolvimento que fez e agora se contenta em dizer que, se não der certo, pelo menos “tentamos”. O Presidente do BC, cuja esposa está muito bem empregada, mamando em mais uma das tetas de nossa imensa “vaca governamental”, afirma que eleva os juros porque tem na mira a meta de inflação prometida pelo governo ao FMI, enquanto o presidente alega, mais uma vez, que “estamos tentando” não deixar a inflação subir, pois ela “cai nas costas” da população pobre. Juntando o quebra-cabeça, parece que eles querem arrumar tudo através de uma adaptação da teoria do caos. Com um simples manejo da taxa de juros, ou seja, através da manipulação de uma das diversas variáveis dessa problemática equação que é a economia brasileira, pretendem organizar toda a economia nacional, sem que seja envidado realmente nenhum esforço intelectual por parte de nossos governantes. Porém, ao invés de provocar um tufão capaz de afastar a inflação, acabam é causando um vento leve que somente espalha as chamas da dívida interna, da recessão, das altas taxas de juros, provocando, em contrapartida, a queda dos investimentos em infra-estrutura e privados. O governo, em plena retomada do crescimento da economia, freia o consumo, aumenta o custo do dinheiro para todos, inclusive para ele próprio. Vamos mirar o descontentamento e empobrecimento nacional. Vamos mirar o desemprego. Vamos mirar a miséria. Vamos mirar a meta da inflação. Se formos burros, vamos sim. Para o que realmente se deve mirar, que é um verdadeiro desenvolvimento, o governo parece um míope, um cego. Centrando-se apenas na hilária meta de inflação, que, sabe-se, é absurda para a economia brasileira da forma em que se encontra, o governo Lula, que imaginávamos seria diferente do anterior, comete os mesmos erros. O povo não sabe mais em quem votar. Não existe mais consciência eleitoral. A frustração é generalizada. A pilastra que deveria ser uma das mais rígidas de qualquer governo, que é a educação, é deixada de lado. Somente passarão a investir neste “supérfluo” se o FMI concordar em excluir esta ou aquela despesa do cálculo do superávit. Por acaso uma regra contábil aumentará os disponíveis do governo? Não. Mas quem sabe ele venha a se esquecer do que prometeu ao FMI para que nosso presidente possa lembrar do que prometeu ao povo que o elegeu. Mas tudo isso não passa do desabafo de um brasileiro que não ajudou a eleger o governo de seu país, e que não está nada contente com os rumos que ele vem tomando. Bom. Pelo menos nós tentamos. Só não conseguimos…”