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Eleições

ontem Cleanto Farina Weidlich

“Eleições: processo e julgamento? Voltando os olhos para a história para buscar paradigmas culturais, sociológicos e jurídicos para melhor compreender o momento político sentido e sofrido pela nossa vida republicana, fui buscar no ‘processo inquisitorial’, vivenciado no Brasil no julgamento do processo 5206 da Inquisição de Lisboa contra o poeta luso-brasileiro Bento Teixeira, autos do poema que inaugura o barroco brasileiro denominado Prosopopeia a Jorge Albuquerque Coelho, poema encomiástico e reclamador, agônico à Camões e louvador fragmentado pela relação maniqueísta de vida/morte, céu/inferno, pecado/salvação, amor/ódio. Bento Teixeira foi um cristão-novo que, além de poeta, ensinou ‘letras e contas’ advogou, polemizou com religiosos sobre difíceis temas bíblicos, estudou Teologia (com apoio das mais altas autoridades eclesiásticas), vendeu farinha (como professor e religioso, precisou de uns ‘bicos’) e foi enquadrado nas hostes inquisitoriais especialmente pelo seu discurso livre-pensador/obsceno. Para esse tipo de justiça, tudo o que é ‘fora de cena’ é desejado e até estimulado para que, sobre ele, aplique-se ‘o rigor da lei’, enquadrando-se toda a marginalidade, outra vez, ao ‘seio da cristandade’. O ‘fora de cena’ en/cena-se Bento Teixeira poderia não ter tido, nem de longe, a intenção de apresentar para a posteridade um significado oculto para a sua prosopopeia. Mas, pelo sim, pelo não, a estrutura do seu discurso mostre bem a condição prosopopeica da cultura processada: recupera-se, in extremis, o discurso dos que não podem falar, como o propósito de se fechar, para sempre aquela boca, reprimir o corpo tenuemente liberado. Mas a prosopopeia ofendida vira fênix e renasce da poeira dos papéis em esfacelamento, revelando-se a nós e permitindo-nos ver a pertinência da cata à obscenidade como projeto de poder, mas também a imoralidade básica de tal procedimento. A obscenidade é uma das falas, justaposta ao humanismo liberalizando, aos costumes pagãos, às heresias. Todas essas falas justificam a pretensa prática da justiça que, responde ao apetite político-econômico do poder centralizado. Bento Teixeira, foi alvo de delação ao ‘poder centralizado’ sendo acusado de: Dizia que no inferno não havia dano físico, mas sim mental; Lia Giovanni Boccaccio; Tinha língua ruim e provocava muitas discussões nos bares, nas ruas, nas portas das igrejas; Ficava na porta da igreja e, quando a missa começava, ia-se embora; Tinha amizade com pessoas que discutiam a moralidade dos sacerdotes à luz das novelas de Boccaccio; Dizia que a casa das pessoas é tão sagrada quanto a igreja. Bento Teixeira, o licencioso, libertino, assassino, prevaricador, concupiscente, que não tinha menos penas do que outros para a sua danação pelo fogo, foi reconciliado e morreu penitente. A sua prática de colonizador-colonizado equivaleu, como luta, à consciência fragmentada dos objetos da história autoritária. Bento Teixeira, não foi o único processado pela Inquisição de Lisboa atuando e aplicando ‘justiça’ no Brasil, houve ainda a incriminação do humanista Damião Góis: ‘ser muito dado a comer e beber, assim como aos prazeres da carne’ ao lado de ‘possuir ideias avançadas’ e ‘não ser muito misseiro’. Um amálgama exemplar. (in O Obsceno – Jornadas Impertinentes – Ed. Linguagem – do Processo Inquisitorial – O obsceno desejado – por Luiz Roberto Alves, p. 27/33). Trazendo os olhos, o sentimento social, jurídico, humanístico e político para esses calendários atuais, não é necessário um grande esforço de intelecção, para fazer um amálgama – Ideias não são metais que se fundem acertava Gaspar Silveira Martins – para concluir, até onde alcançam as nossas chinelas que a censura imposta pelo TSE, como braço de extensão do STF, que é o nosso Tribunal Constitucional, aos meios de comunicação, incluindo nesses últimos dias até um canal de televisão (JOVEM PAN NEWS), além de se tratar de decisão totalmente inconstitucional, nos faz relembrar os idos da Inquisição vivenciado em nosso país enquanto colônia de Portugal, proibindo de forma absolutamente autoritária e ilegal a liberdade de pensamento, de expressão de ideias, e, de comunicação, fazendo renascer no seio da nossa pátria e mãe gentil, os tempos nefastos do obscurantismo, do processo inquisitorial, que a vida republicana e a sociedade moderna querem ver relegados e sepultados como uma das páginas mais tristes da história da vida nacional.”

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