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A COP-27 terminou com um avanço histórico e várias expectativas frustradas. O compromisso de criação de um fundo internacional para compensar perdas e danos sofridos pelos países em desenvolvimento afetados por eventos climáticos extremos representou uma vitória importante dos países mais vulneráveis, vez que sequer se admitiu a discussão do tema “perdas e danos” na COP passada. O Fundo deve ser objeto de discussão em um Comitê de Transição, a ser criado para fazer recomendações sobre como operacionalizá-lo até a COP do próximo ano.
Entretanto, outros temas importantes não avançaram ou avançaram pouco em relação a outras COPs:
> Mitigação: Subsistem os compromissos do Acordo de Paris (garantir que o aumento da temperatura média do planeta fique abaixo de 2°C em relação ao período pré-industrial, com esforços para limitar a alta da temperatura a 1,5°C até o ano de 2100). Contudo, não houve aumento das ambições nacionais ou detalhamento de ações para atingir as metas propostas. A inércia tem seu preço: o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC/2022) revela que a janela de tempo para limitar o aquecimento global a 1,5º C está praticamente fechada;
> Financiamento climático: Houve pouco avanço sobre o tema, sem que a promessa inicial dos países desenvolvidos de investimento climático, em cooperação internacional de ao menos US$ 100 bilhões anuais de 2020 a 2025, tenha sido cumprida. Alguns novos acordos bilaterais de financiamento (Indonésia e Vietnam), todavia, foram apresentados;
> Mercado de carbono: O tema não evoluiu como esperado. Detalhes de implementação das regras, como a definição de procedimento, nível de informação a ser reportado e avaliado, metodologias/métricas, forma de registro e transação ainda estão em pauta. A falta dessas definições abre espaço para as críticas às regras atuais, entre elas a de facilitar o greenwashing;
> Fontes de energia: Não houve grande avanço nas previsões de abandono gradual do uso de carvão e de hidrocarbonetos, ou de cessação dos subsídios a combustíveis fósseis ineficientes. A previsão de melhorar as matrizes energéticas limpas, incluindo energias de baixa emissão e renováveis, foi prevista no acordo deste ano, mas ainda em termos genéricos.
Essa COP representou igualmente uma ampliação do acesso do setor privado ao evento, o que evidencia que o setor privado está presente e interessado em contribuir para o combate ao aquecimento global, mas também que há muito marketing associado ao tema e boas intenções não necessariamente acompanhadas de efetiva implementação.
Neste cenário pós COP-27, o Brasil possui oportunidades e desafios a serem enfrentados. Espera-se que haja a retomada de uma agenda ambiental e climática sistêmica, vinculada a um planejamento estratégico e integrado com outras agendas governamentais, o que pode inaugurar uma nova era.
O país tem vantagens evidentes para cumprir suas ambições: é uma referência em energia limpa, arranjos produtivos e iniciativas sustentáveis e inovadoras, inclusive em bioeconomia. Esse tipo de projeto pode e deve ser aprimorado, ganhar incentivo e escala, por meio de políticas públicas nacionais ou subnacionais. Essas políticas deverão levar em conta o potencial da biodiversidade brasileira e de recuperação de áreas degradadas (reflorestamento), o papel do agronegócio nacional na garantia e geração de alimentos de forma sustentável, a ampliação das fontes de geração de energia renováveis, as possibilidades de cooperação internacional, um maior investimento em pesquisa, tecnologia, descarbonização e captura de carbono e a regulamentação do mercado de carbono brasileiro, assim como a capacitação de líderes e a integração de iniciativas a cadeias produtivas da sociobiodiversidade.
Em síntese, diante do quadro desafiador que a urgência climática impõe, cabe ao Brasil adotar imediatamente as medidas capazes de retomar o protagonismo climático e acelerar a descarbonização de sua atividade econômica. Esse desafio representa igualmente uma oportunidade ímpar para o País de, a partir de seus diferenciais, replanejar sua rota, políticas e ações, reconquistando os resultados ambientais e climáticos esperados e, por conseguinte, sua posição no diálogo internacional.
Tatiana Cymbalista
Advogada do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados.
Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados
Mônica Letícia Breda
Advogada do escritório Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados.
Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Sociedade de Advogados