Invasão do Iraque
23/3/2004 Cecília Martone Moreira
“A falta de informação quase completa que se tem no Brasil sobre os motivos por trás dos chamados atos terroristas não deixa entrever a realidade absurdamente cruel a que estão submetidos os povos do Iraque, Afeganistão e Palestina. Quando vemos na tv que houve outra explosão de homem bomba e engolimos passivamente o estereótipo do muçulmano bárbaro dificilmente conseguimos nos dar conta do quanto a informação foi manipulada e apresentada para nos manter na total ignorância da realidade daqueles povos, simplesmente porque vemos esses acontecimentos a partir da ótica do contador da história, geralmente, ocidental. Existem, no entanto, fontes como o jornalista Robert Fisk, que muito bem testemunhou a invasão no Iraque e dia após dia relatava a crueldade desumana inimaginável que os “ataques inteligentes” da tecnologia ocidental causavam a cidades inteiras no Iraque. Bombas com estilhaços altamente tecnológicas que partiam os membros das pessoas, onde quer que elas estivessem, até mesmo dentro de casa; destruir o Iraque para depois vender o direito de reconstruí-lo para a Halliburton; os planos de tomada de posições estratégicas no Oriente Médio há muitos anos elaborados; a parceria Al Qaeda – Casa Branca, Washington – Israel; todas as incongruências do 11 de setembro; as acusações precipitadas, enfim são tantas coisas, mas tudo isso passa ao largo da consciência do brasileiro que recebe a maior parte de suas informações da Rede Globo.. O recente atentado de Madri, o ‘ataque’ ao WTC, tudo isso é revestido de uma mítica que acaba convencendo que ‘se os aliados recuarem, os desumanos métodos das organizações terroristas serão coroados de êxito pleno’, como se aqueles povos encontrassem grande prazer em se explodirem e viverem sob embargos, opressão e ameaça. É exatamente isso que eles querem que pensemos. Só que o terrorismo de estado, a morte de milhares de inocentes nos países do Oriente (estima-se 50.000 civis iraquianos), a agressão diária de total desrespeito aos direitos humanos básicos (no caso da Palestina, Afeganistão, Iraque etc) são zelosamente mascarados. Afinal, o que os olhos não vêem, o coração não sente. O terrorismo existe quando há opressão e desrespeito pela pessoa humana, um desespero em grau tão intenso que da ótica ocidental talvez não conseguiremos entender. É necessário que saiamos de nossa posição confortável para olhar através do ponto de vista do outro. E talvez vamos então descobrir a grande Matrix em que estamos vivendo.”