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O conceito de ESG – Environmental, Social, and Governance tornou-se um pilar fundamental para empresas que buscam se alinhar com práticas mais sustentáveis, éticas e socialmente responsáveis. Em um mundo cada vez mais consciente dos desafios globais, como as mudanças climáticas, a desigualdade social e a governança corporativa, a adoção de critérios ESG não é mais apenas uma opção, mas uma necessidade estratégica para o sucesso a longo prazo.
No mercado de seguros, onde o gerenciamento de riscos é a base do negócio, incorporar práticas sustentáveis é mais do que uma estratégia inteligente – é uma necessidade premente. As seguradoras, que antes viam a sustentabilidade como uma mera tendência, agora reconhecem que práticas ESG são cruciais para mitigar riscos, atrair clientes e, principalmente, garantir a longevidade de suas operações.
O mercado de seguros já começou a dar passos importantes nessa direção e a publicação da Circular 666 pela Susep – Superintendência de Seguros Privados em 2022 é um exemplo claro disso. A Susep, sempre atenta às tendências globais, entendeu que o setor precisa se adaptar às novas exigências do mercado e do ambiente regulatório e, por isso, exigiu que as seguradoras adotem políticas de sustentabilidade, integrem a gestão de riscos climáticos, ambientais e sociais em suas operações, e publiquem relatórios anuais sobre suas práticas. A circular não é apenas uma diretriz; ela é um chamado à ação, uma declaração de que o futuro do mercado de seguros passa, inevitavelmente, pela sustentabilidade.
Além disso, é importante destacar que essa não é uma iniciativa isolada. Os PSI – Princípios para Sustentabilidade em Seguros, criados pela UNEP FI – Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o meio ambiente, são um conjunto de diretrizes globais que buscam transformar o setor de seguros em um agente de mudança para um futuro mais sustentável.
Esses princípios pedem que as seguradoras incorporem questões ESG em suas decisões de negócios, colaborem com clientes e parceiros para promover a sustentabilidade, trabalhem com governos e reguladores para fomentar uma ação ampla em toda a sociedade, e, finalmente, sejam transparentes ao relatar publicamente suas ações e progresso. A adoção desses princípios por seguradoras ao redor do mundo demonstra um compromisso real com a transformação do setor.
Mas como, na prática, as seguradoras podem implementar essas diretrizes e atender às exigências da Susep? Primeiramente, as seguradoras precisam rever seus processos de subscrição de riscos, incluindo critérios ESG na avaliação de novas apólices. Isso significa, por exemplo, oferecer condições mais favoráveis para empresas que adotam práticas sustentáveis, como o uso de energia renovável ou a redução da pegada de carbono. As seguradoras podem também criar produtos inovadores, como seguros para veículos elétricos ou para construções ecológicas, que não só atendem a uma demanda crescente do mercado como também incentivam práticas sustentáveis entre os clientes.
Outro ponto crucial é a gestão de investimentos. As seguradoras, como grandes investidores institucionais, têm o poder de direcionar recursos para setores que promovem a sustentabilidade. Isso implica em adotar critérios rigorosos para a seleção de investimentos, evitando alocar recursos em empresas ou projetos que não sigam práticas ESG, e priorizando aqueles que contribuem para o desenvolvimento sustentável. Além disso, as seguradoras devem engajar-se ativamente com as empresas em que investem, incentivando-as a melhorar suas práticas e a adotar medidas que minimizem riscos ambientais e sociais.
A educação dos clientes também é uma peça-chave na implementação de ESG. As seguradoras podem, e devem, promover campanhas de conscientização que ajudem seus clientes a entenderem a importância da sustentabilidade e como podem contribuir para um futuro melhor. Isso não só fortalece a relação com os clientes, mas também alinha as expectativas de todos os stakeholders com as práticas de mercado mais avançadas.
Assim, a adoção de práticas ESG no setor de seguros não é apenas uma resposta a uma demanda do mercado, mas uma transformação necessária para garantir a sustentabilidade e a relevância das empresas em um futuro cada vez mais exigente. As seguradoras que abraçarem essa transformação estarão protegendo seus negócios contra riscos emergentes e se posicionando como protagonistas em um mercado que valoriza cada vez mais a responsabilidade social e ambiental. O futuro do setor de seguros pertence àqueles que têm a coragem de inovar, adaptando-se às novas exigências e liderando pelo exemplo em um mundo que clama por mudanças.
Fabiane Gomes Pereira
Sócia e gerente de Seguros da Jacó Coelho Advogados. Graduação em Direito pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) e pós-graduação em Trabalho e Processo do Trabalho pela Atame, em 2015. MBA em Gestão Jurídica de Seguros e Resseguros pela Escola Superior Nacional de Seguros (FUNENSEG). Possui ampla experiência em contencioso e consultivo de seguros e cível.