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A bonificação de 10% nas provas de residência médica é um direito garantido por lei aos médicos que participam de programas de atenção básica, como o Programa Mais Médicos. No entanto, mudanças recentes nas normas administrativas e a exclusão de participantes de listas qualificadas, têm gerado debates e levado casos ao Judiciário.
Este artigo explora as bases legais do benefício e os desafios enfrentados pelos profissionais da saúde para garanti-lo.
O que é a bonificação e quem tem direito?
A lei 12.871/13, que criou o Programa Mais Médicos, também estabeleceu que médicos que atuaram em ações de atenção básica em regiões prioritárias para o SUS teriam direito a um bônus de 10% na nota de seleção para programas de residência médica. Esse incentivo visa reconhecer a atuação em locais de difícil acesso, valorizando os profissionais que contribuem para a saúde pública em áreas vulneráveis.
Para ter direito à bonificação, o médico precisa comprovar ao menos um ano de participação em programas como o Mais Médicos, além de cumprir outros requisitos previstos na legislação.
Por que o direito à bonificação está sendo contestado?
Embora a bonificação seja garantida por lei, mudanças recentes têm limitado sua aplicação. A resolução 17/22, da CNRM – Comissão Nacional de Residência Médica, revogou bonificações em processos seletivos de residência médica a partir de 2023. Essa norma gerou controvérsias, pois contrariou dispositivos da lei 12.871/13.
Na prática, isso significa que médicos que cumpriram os requisitos legais para a bonificação estão sendo impedidos de utilizá-la, o que levou muitos a buscar na Justiça o reconhecimento de seus direitos.
Um caso recente, amplamente divulgado na mídia (Confira aqui), envolveu uma médica que atuou por mais de três anos no Programa Mais Médicos e teve sua bonificação negada. A Justiça Federal garantiu liminarmente o direito da profissional, reconhecendo que a norma da CNRM não pode sobrepor-se à lei Federal.
O papel do Judiciário na garantia desse direito
A questão da bonificação tem sido frequentemente judicializada. Em diversos casos, juízes têm reafirmado que resoluções administrativas, como a da CNRM, não podem restringir direitos previstos em lei.
Decisões recentes ressaltam que a exclusão de profissionais da lista de bonificação representa uma extrapolação do poder regulamentar, já que o benefício está claramente previsto na legislação. Assim, o Judiciário tem atuado como um importante mediador para assegurar que os médicos não sejam prejudicados por interpretações administrativas restritivas.
O impacto da bonificação para os médicos e o sistema de saúde
A bonificação de 10% pode fazer uma grande diferença na classificação de um candidato em processos seletivos para residência médica. Muitos médicos que atuam em áreas remotas veem nesse incentivo uma recompensa pelo trabalho em condições desafiadoras.
Além disso, o benefício também contribui para atrair profissionais para essas regiões, ajudando a reduzir desigualdades no acesso à saúde. A limitação ou exclusão da bonificação, portanto, não afeta apenas os médicos, mas também a população atendida.
Como os médicos podem garantir seu direito à bonificação?
Para os médicos que se sentem prejudicados, há algumas medidas práticas que podem ser adotadas:
Conclusão
A bonificação de 10% nas provas de residência médica é mais do que um incentivo: é um reconhecimento aos profissionais que dedicam suas carreiras ao fortalecimento do SUS em regiões vulneráveis. Apesar das dificuldades impostas por alterações normativas, o direito continua respaldado pela legislação e pelo Judiciário.
Garantir esse benefício é fundamental não apenas para valorizar os médicos, mas também para promover a equidade no acesso à saúde no Brasil.
Evilasio Tenorio da Silva Neto
Advogado especialista em Direito da Saúde e Direito Civil. Titular do TSA – Tenorio da Silva Advocacia, escritório considerado referência nacional na defesa dos usuários de planos de saúde e do SUS.