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45 anos separam o momento em que os escritórios começaram a usar computadores, na década de 1980, dos dias atuais. Até então, os processos eram físicos, as audiências registradas em papel e as anotações feitas manualmente. E mesmo com todas as mudanças, só muito recentemente, na década de 2000, as coisas começaram a realmente evoluir, ainda que muito lentamente, com avanços como o e-mail substituindo o fax.
E o que vemos nas bancas jurídicas hoje, quatro décadas depois? Milhares de oportunidades para tornar a advocacia mais acessível, disponível e verdadeiramente útil à sociedade. No entanto, de acordo com uma pesquisa do IBGE (2023), apenas 12% dos escritórios brasileiros utilizam Inteligência Artificial, um número ainda muito pequeno diante do potencial transformador que essa tecnologia oferece ao Direito.
Mas até onde podemos chegar? A IA traz inúmeras possibilidades, mas poucos escritórios exploram seu verdadeiro potencial. Sua aplicabilidade não só beneficia advogados, como também impacta toda a sociedade, eliminando burocracias que no passado podiam levar até mesmo anos para serem resolvidas e tornando a Justiça mais ágil e acessível.
Como a tecnologia está transformando a advocacia?
Toda essa evolução proporcionou inúmeros benefícios, como a prática advocatícia remota, audiências virtuais, processos eletrônicos, Inteligência Artificial jurídica e softwares jurídicos especializados.
Antes, um advogado precisava ler um contrato linha por linha para garantir que não houvesse erros, omissões ou cláusulas abusivas. Essa etapa, além de demorada, era muito suscetível a falhas humanas.
Agora, a automação tornou essa tarefa mais rápida e eficiente. Com a IA adequada é possível fazer a varredura do contrato em segundos e identificar cláusulas que fujam do padrão estabelecido, reduzindo, assim, o tempo necessário para tal atividade.
Além disso, em vez de redigir documentos do zero, juristas utilizam modelos sistematizados que geram contratos personalizados em segundos. Com um simples formulário, o software preenche automaticamente os campos variáveis, como nomes, prazos e valores, ajustando o conteúdo conforme as necessidades do caso.
A pesquisa jurídica sempre foi uma das funções mais demoradas e exaustivas dos escritórios jurídicos. Antes da tecnologia, encontrar jurisprudências relevantes, doutrinas e decisões judiciais podia levar semanas, dependendo da dificuldade dos processos e da disponibilidade de registros organizados. O responsável precisava folhear páginas e mais páginas de livros e consultar diferentes bancos de dados manualmente.
Agora, algoritmos de IA interpretam a intenção da busca e filtram apenas as jurisprudências mais relevantes, economizando tempo e esforço. Além disso, o sistema compara ações semelhantes e sugere decisões que influenciam diretamente o resultado.
Graças ao volume de dados disponíveis, os sistemas inteligentes conseguem até mesmo analisar casos parecidos e calcular matematicamente a chance de vitória, ajudando na estratégia. Por exemplo, se um defensor busca jurisprudência sobre acidente de trabalho com afastamento prolongado, o sistema consegue listar decisões e ainda mostrar qual delas tem maior chance de ser aplicada à causa em questão.
Outro ponto que sempre foi um desgaste de tempo para os juristas é o atendimento ao consumidor. Isso porque era comum passar horas respondendo dúvidas básicas e repetitivas, fazendo triagem de clientes e explicando procedimentos simples.
Hoje, chatbots jurídicos resolveram esse problema, permitindo que escritórios automatizem atendimentos iniciais, filtrem demandas e agilizem o contato com os clientes. Com a IA, a primeira interação com a banca não depende mais de uma pessoa, mas de um assistente virtual.
Esse assistente fornece informações sobre serviços, prazos e documentos necessários para uma ação, realiza uma triagem inicial, coletando informações e identificando se o processo realmente precisa de um especialista. Ademais, o contratante sente que foi atendido rapidamente, aumentando sua satisfação.
Compliance e gestão de riscos na era digital
De fato, o avanço digital trouxe consigo um aumento da complexidade regulatória e da globalização dos negócios. Como resultado, advogados e departamentos legais enfrentam desafios cada vez maiores para que as organizações atuem dentro das normas vigentes.
No entanto, na mesma medida em que essas exigências cresceram, softwares de compliance passaram a monitorar automaticamente mudanças na legislação, certificando a atualização de políticas corporativas em tempo real.
Uma mudança significativa nesse cenário é que, no passado, vulnerabilidades só eram identificadas após um incidente acontecer, o que resultava em multas e danos à reputação do escritório. Hoje, ferramentas de análise preditiva identificam padrões e antecipam riscos antes que se tornem problemas legislativos.
Por exemplo, anteriormente uma fintech que trabalhasse com crédito precisaria monitorar fraudes e lavagem de dinheiro manualmente. Hoje, com machine learning, ela examina transações suspeitas, cruzando dados internos e externos para prever comportamentos instáveis antes que causem prejuízos.
Isso porque a sistematização de auditorias permite a avaliação de centenas de documentos em minutos, identificando desvios e inconsistências com rapidez e precisão. Enquanto as cláusulas de risco e outros elementos contratuais podem ser avaliados de forma sistematizada, reduzindo erros e proporcionando mais segurança e conformidade.
A IA pode tomar decisões jurídicas?
Muitos profissionais do Direito têm demonstrado preocupação com o uso da Inteligência Artificial, temendo que seu uso possa levá-los a infringir códigos de conduta ética e ocupacional. No momento, não existem diretrizes unificadas e amplamente aceitas que estabeleçam um caminho claro sobre como utilizar essa tecnologia dentro dos limites morais da advocacia.
Nesse sentido, é importante acompanhar de perto as regulamentações em evolução, tanto em nível nacional quanto internacional, para compreender como as normas de conduta estão sendo ajustadas à realidade da IA.
Até agora, há um entendimento geral na indústria jurídica de que a computação cognitiva não deve tomar decisões finais em julgamentos, mas pode ser empregada para funções administrativas, pesquisa e otimizações.
Embora os sistemas inteligentes continuem a influenciar a prática do Direito, sua utilização apresenta mais oportunidades do que riscos, desde que aplicada com responsabilidade e dentro dos limites éticos do setor.
Quais os benefícios da tecnologia jurídica?
Um estudo da McKinsey (2022) revelou que 40% das tarefas jurídicas podem ser automatizadas com Inteligência Artificial. Mas o que isso realmente significa para os escritórios de advocacia? Como essa transformação impacta o dia a dia do profissional da área?
É importante frisar que isso não significa que os advogados serão substituídos, mas sim que seu trabalho poderá ser mais estratégico, eficiente e menos sobrecarregado por atividades repetitivas. Bancas que adotam a computação cognitiva diminuem custos, aumentam a produtividade e melhoram a experiência dos clientes.
Como lidar com os avanços da IA?
Apesar de sua capacidade de analisar dados e reconhecer padrões, a Inteligência Artificial não substitui o julgamento humano. No Direito, cada caso apresenta contextos únicos, nuances éticas e implicações comerciais que exigem sensibilidade, estratégia e experiência – qualidades que o dispositivo ainda não consegue replicar.
Advogados não apenas aplicam a legislação, mas também são flexíveis, interpretam intenções, ponderam consequências e tomam decisões considerando a justiça e o impacto social.
Ou seja, mesmo com todas as vantagens da IA, o profissional do Direito sempre terá um papel principal. O que se faz necessário agora é encarar a tecnologia como a oportunidade que ela realmente representa, utilizando seu potencial para reduzir burocracias, otimizar processos e diminuir custos, tornando a prática legal mais ágil e eficiente.
Eduardo Koetz
Eduardo Koetz é advogado, sócio-fundador da Koetz Advocacia e CEO do software jurídico ADVBOX . Especialista em tecnologia e gestão, ele também se destaca como palestrante em eventos jurídicos.